15 de fevereiro de 2017

“OS POBRES NÃO TERÃO COMO PAGAR A TARIFA DA ÁGUA APÓS A CEDAE SER PRIVATIZADA”, CLÓVIS NASCIMENTO, PRESIDENTE DA FISENGE [VÍDEO]

Querem privatizar a Companhia Estadual de Águas e Esgotos do RJ - CEDAE, mas a ladainha de que o Estado está quebrado justifica passar a Companhia para a iniciativa privada? Para responder essa e outras perguntas relevantes fui entrevistar o presidente da Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (FISENGE), CLÓVIS Francisco do Nascimento Filho (foto). Engenheiro civil há 38 anos, especialista na questão do saneamento, também é vice-presidente do Sindicato de Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge-RJ).

O dirigente afirmou que caso essas privatizações aconteçam quem vai sofrer, principalmente, é a camada mais pobre do povo, pois a iniciativa privada só atende a quem tem dinheiro para pagar. “Somos contra a privatização da CEDAE porque saneamento, água e esgoto tem que ter gestão pública, do contrário o povo não terá como pagar pela tarifa (...) a CEDAE é uma empresa lucrativa que cumpre seu papel e dá dividendos ao estado. Não tem cabimento privatizá-la. Isso sem falar do pior dos problemas, água é questão de saúde pública, sem acesso a água tratada muitas pessoas irão adoecer de diversas enfermidades”.

A consequência da precarização é o crescimento dos gastos com saúde provocados pelo aumento das doenças. Segundo a ONU, a cada 1 real investido em saneamento, economiza-se 4 reais em saúde. Mas os capitalistas pouco se preocupam com isso. Eles só pensam no lucro. Isso sem falar nas demissões, arrocho salarial e na retirada de mais diretos trabalhistas e sociais.

Clóvis Nascimento explicou detalhadamente como será difícil avançar com a privatização da estatal, é um processo desgastante. 61 municípios atendidos pela CEDAE precisam aprovar a privatização, tem que ser votado em todas as casas legislativas e por todos os prefeitos, depois também pela ALERJ e por fim pelo insuspeito governador, agora cassado pelo TRE-RJ, Pezão.

Segundo fontes, apesar de a empresa valer entre R$ 10 e R$ 14 bilhões, nos bastidores, membros do governo dizem que a negociação seria de cerca de R$ 4 bilhões, valor irrisório – a receita operacional da CEDAE em 2015 foi de R$ 4,47 bilhões. Ao contrário do que afirmam aliados de Pezão, a empresa é lucrativa. Em 2015, o lucro líquido foi de R$ 248,8 milhões. O termo de compromisso também prevê que, se a venda for realizada por valor inferior ao do empréstimo obtido, a diferença será paga com recursos da previdência social dos servidores, sacrificando ainda mais os funcionários públicos.

Após termos gravado, o presidente do FISENGE lembrou que cidades, como Paris, Buenos Aires, Berlim, Barcelona, Sevilha, Nápoles e Atlanta, estão retomando o controle sobre o serviço, devido às altas taxas cobradas pela iniciativa privada e à piora das condições nos bairros mais pobres por não haver interesse de empresários em investir nesses locais.
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