Robert Crosbie, o fundador da Loja Unida de Teosofistas, escreveu:
“Uma mente aberta, um intelecto ardente, sem medo ou dúvidas, é a clara percepção espiritual.” [1] Com esta frase, Crosbie estava comentando um trecho da “Escada de Ouro”, um documento divulgado por H. P. Blavatsky no século 19. A Escada constitui uma espécie de “resumo das regras a serem seguidas” pelos aspirantes ao discipulado da tradição esotérica oriental. Trata-se de um texto breve e decisivo, que os aprendizes costumam memorizar para terem acesso permanente a ele durante as 24 horas do dia. Incluo na tradução a seguir algumas linhas introdutórias, de importância fundamental. Elas fazem parte do texto, mas parecem ter sido esquecidas por amplos setores do movimento esotérico.
A Escada de Ouro
"Quem não retira a sujeira com a qual a fonte de sua inspiração pode ter sido contaminada por um inimigo não ama sua fonte de inspiração nem honra a si mesmo. Quem não defende os perseguidos e os indefesos, quem não compartilha sua comida com os famintos nem tira água do seu poço para os que têm sede, este nasceu demasiado cedo sob forma humana. Observe a verdade diante de você: Vida limpa, mente aberta, coração puro, intelecto ardente, clara percepção espiritual, afeto fraternal para com seu co-discípulo, presteza para dar e receber conselho e instrução, leal senso de dever para com o instrutor, pronta obediência aos preceitos da VERDADE, uma vez que nela pusemos nossa confiança e cremos que o instrutor a possui; corajoso suportar das injustiças pessoais, destemida declaração de princípios, valente defesa daqueles que são injustamente atacados, e mira constante no ideal de progresso e perfeição humanos, que a ciência secreta (Gupta-Vidya) revela - esta é a Escada de Ouro, cujos degraus o Aspirante pode galgar até o Templo da Sabedoria Divina."
Para contemplar melhor o conteúdo, vejamos agora os itens centrais da mesma Escada de Ouro, colocados em linhas independentes:
- Vida limpa,
- Mente aberta,
- Coração puro,
- Intelecto ardente,
- Clara percepção espiritual,
- Afeto fraternal para com seu co-discípulo [2],
- Presteza para dar e receber conselho e instrução,
- Leal senso de dever para com o instrutor [3],
- Pronta obediência aos preceitos da VERDADE,
- Uma vez que nela pusemos nossa confiança e cremos que o instrutor a possui;
- Corajoso suportar das injustiças pessoais,
- Destemida declaração de princípios,
- Valente defesa daqueles que são injustamente atacados,
- E mira constante no ideal de progresso e perfeição humanos,
- Que a ciência secreta (Gupta-Vidya) revela -
- Esta é a Escada de Ouro,
- cujos degraus o Aspirante pode galgar
- Até o Templo da Sabedoria Divina. [4]
A sequência da Escada de Ouro não é necessariamente rígida. Nela qualquer degrau pode ser o primeiro, dependendo do temperamento de cada um e das necessidades éticas do momento vivido. Cada degrau contém, de certo modo, todos os outros.
O texto da Escada de Ouro é usado há milhares de anos pelos aprendizes da sabedoria esotérica. Ele tem valor como mantra, porque resume bem o “caminho para o alto” a ser percorrido. Há aprendizes que a recitam com regularidade, examinando lentamente as implicações práticas de cada um dos seus “degraus”.
Quando olhada desde o ponto de vista do seu conteúdo essencial, a Escada de Ouro é também a Escada de Jacó, que une a consciência celeste e a consciência terrestre (Gênesis, 28: 11-12). Seus degraus correspondem, de certo modo, aos Versos de Ouro de Pitágoras. [5] Estas diversas imagens simbólicas estão ligadas à “ponte” oculta que há em cada indivíduo humano, e cuja função é ligar o seu eu inferior ao seu eu superior; sua alma mortal à alma imortal. O nome desta ponte, em sânscrito, é Antahkarana.
NOTAS:
- [1] “The Friendly Philosopher”, Robert Crosbie, Theosophy Company, Los Angeles, 416 pp., 1946, p. 100.
- [2] Todos os seres são nossos co-discípulos, isto é, nossos companheiros de aprendizado.
- [3] Quem é o mestre? A obra “Luz no Caminho”, cuja origem é essencialmente a mesma que a da Escada de Ouro, avisa: “A inteligência é imparcial: ninguém é teu inimigo; ninguém é teu amigo. Todos são teus instrutores.” (Edição em inglês, Theosophy Co., p. 24.) No entanto, há fontes sagradas e centrais de instrução espiritual, e o acesso a elas deve ser preservado. Este verso também poderia ser formulado assim: “leal senso de dever para com a fonte de instrução/inspiração”. Porque a fonte não é pessoal, nem fixa, nem única, mas deve ser respeitada, para que não se interrompa o contato com ela e para que o processo de aprendizagem tenha condições magnéticas de prosseguir.
- [4] “Collected Writings”, H. P. Blavatsky, TPH, India/USA, volume XII, p. 503.
- [5] O texto “Os Versos de Ouro”, com introdução, tradução e comentários de Carlos Cardoso Aveline, pode ser encontrado em www.FilosofiaEsoterica.com , na seção temática “Filosofia Ocidental, Clássica e Moderna” .
O texto acima foi liberado para publicação em 26 de janeiro de 2012.
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Sobre a proposta original do movimento teosófico, que envolve o despertar da humanidade para a lei da fraternidade universal, veja o livro “The Fire and Light of Theosophical Literature”, de Carlos Cardoso Aveline.
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