A ideia é incluir nos projetos conceitos arraigados nas comunidades
alvo, como a construção de "puxadinhos" e o uso de vielas para
locomoção.[Imagem: Labhabts/UFRJ]
Habitações de interesse social
Pesquisadores estão propondo mudanças na forma de planejar e projetar
habitações de interesse social (HIS), os famosos conjuntos
habitacionais, voltados para a população de baixa renda.
A ideia é incluir nos projetos conceitos arraigados nas comunidades
alvo, como a construção de "puxadinhos" e o uso de vielas para
locomoção.
Tudo começou com uma chamada pública lançada pela FINEP em 2010 para
formar uma rede de pesquisadores de universidades públicas para estudar
novas políticas, métodos construtivos e tipos arquitetônicos para HIS.
As propostas deviam incorporar tecnologias sociais, visando à
elaboração de novos parâmetros e conceitos para o programa Minha Casa
Minha Vida (MCMV).
Um dos grupos selecionados pertence ao Ippur - Instituto de Pesquisa e
Planejamento Urbano e Regional da UFRJ. A ele coube a tarefa de
elaborar projetos de arquitetura alternativos ao modo tradicional de
conceituar, projetar e construir as HIS.
Puxadinho oficial
O resultado foram 11 novos tipos de habitações com muitos
diferenciais. Um deles é a flexibilidade para contemplar apartamentos de
um a quatro quartos, com construções que permitem rearranjo dos
leiautes e a expansão controlada das unidades - ou seja, o "puxadinho"
foi integrado, mas de forma a não descaracterizar o projeto.
Outra novidade é a proposta de uso misto das edificações, juntando o
lado residencial à prestação de serviços. Pensando nisso, foram criados
pilotis nos prédios para agregar espaços de comércio e lazer às
construções.
Circulações verticais e horizontais de uso público também foram contempladas, melhorando a mobilidade na área.
Plantação de casas
"A maior parte dos projetos é de habitações unifamiliares de dois
quartos, cujas maiores críticas são a massificação das construções,
resultando no que parece uma 'plantação de casas', com residências uma
ao lado da outra, e o consequente mal aproveitamento da infraestrutura
urbana," diz Verônica Natividade, arquiteta da equipe IPPUR/UFRJ.
Ela conta ainda que o modelo do MCMV (Minha Casa Minha Vida)
impossibilita eventuais expansões e não considera a diversidade da
composição das famílias que ocuparão o imóvel.
"Nessa pesquisa, procuramos responder a essas questões, dando às HIS
um papel ampliado que vá além do fornecimento do abrigo. Sobre os
aspectos arquitetônicos, partimos da hipótese de que as HIS pudessem ter
um papel relevante na organização espacial do lugar onde fossem
implantadas ou que atuassem como instrumento de reorganização espacial
em assentamentos informais já consolidados," explica Verônica.
Fábrica comunitária
Para resolver as questões ligadas ao processo de construção em si, o projeto do propõe o uso de componentes pré-fabricados.
Além do ganho em agilidade, haveria uma aproximação entre o
projetista, o construtor e o usuário, graças à flexibilização do
programa arquitetônico, permitindo, inclusive, que o usuário participe
da construção de sua moradia.
O projeto contempla a montagem de uma fábrica dos painéis de fachada
dentro da própria comunidade. Assim, o morador poderia encomendar seus
painéis se quisesse modificar o apartamento. Além da apropriação da
concepção de sua moradia, a fábrica promoveria a transferência
tecnológica e capacitação e mão-de-obra.
"Ao dar acesso a essas duas etapas do processo, a população passa a
ser protagonista da produção das HIS, e não agente passivo diante de
programas rígidos e, por vezes, distantes das reais necessidades e
expectativas daqueles para quem as habitações são construídas", afirma
Verônica.
Metodologia
A metodologia aplicada nessa pesquisa se originou da experiência do
arquiteto Luiz Carlos Toledo, coordenador da equipe, na elaboração do
Plano Diretor da Rocinha (favela do Rio de Janeiro), em 2006.
Para a elaboração do plano, Toledo fez uma verdadeira imersão na
comunidade, onde treinou o olhar para entender profundamente o modo de
vida dentro de uma favela, a despeito das imagens pré-concebidas e
idealizadas que os arquitetos costumam ter sobre essas partes da cidade.
O plano contou com intensa participação popular, onde os habitantes
opinavam e modificavam o projeto para se adequar às suas necessidades
reais.
"Incorporamos em nosso projeto ideias levantadas e discutidas naquela
ocasião, como o conceito de edificações sustentáveis com tetos verdes,
captação da energia solar e das águas pluviais para reuso, bem como os
processos construtivos baseados na utilização de componentes
industrializados e pré-fabricados, de modo a reduzir o tempo de
construção, evitar os desperdícios de esforços e materiais e garantir
maior controle da qualidade das construções," conta Verônica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário