Na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP foi desenvolvido
um modelo de gestão integrada de drenagem e aproveitamento da água
proveniente de chuvas e do reúso do esgoto sanitário. Para a elaboração
do modelo, o tecnólogo em saneamento Ricardo Camilo Galavoti avaliou
três tipos de cobertura — telhado de zinco, Cobertura Verde Leve (CVL) e
Tetra Pak. Já para o esgoto sanitário tratado, a pesquisa propôs
modificações para um sistema de biodigestão desenvolvido pela Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), visando seu reúso em
escala de lote domiciliar. “Precisamos começar a pensar em reutilização
local, pois isso é muito mais viável que pensar em um sistema de
reaproveitamento de grande porte”, diz Galavoti.
Um dos principais objetivos foi verificar a influência que o material de cobertura de telhados exerce sobre
a qualidade da água da chuva. A gestão integrada consiste em elaborar
um modelo que culmine na racionalização do uso de água, com o
reaproveitamento da água proveniente da chuva. Os testes foram
realizados em escaladas de lote residencial, que no caso da cidade de
São Carlos, no interior de São Paulo, tem o padrão com áreas de 250
metros quadrados (m²). Os testes foram realizados em um lote
experimental, montado no campus da USP, em São Carlos.
“Queríamos ver a influência que o tipo de material tinha sobre a
qualidade da água da chuva armazenada e, para isso, avaliamos os prós e
contras de cada sistema”, diz ele. Uma das coberturas, chamada de
Cobertura Verde Leve (CVL) retém uma grande quantidade de águas
pluviais, enquanto as demais favorecem o escoamento das águas com um
melhor padrão de qualidade. Em todos os sistemas de água foram feitas
instalações hidráulicas e mecânicas.
Dentre as diversas sugestões feita por Galavoti para 0 tratamento de
esgoto sanitário está a melhoria do sistema de desinfecção por raios
ultravioleta e, se necessário, associar essa tecnologia à desinfecção
com cloro em pastilhas, mecanismo de baixo custo que pode ser usado
tanto para tratamento de esgoto sanitário quanto para tratamento de
águas pluviais.
Reaproveitamento local
A inovação não foi no campo dos materiais utilizados, pois eles podem ser encontrados em lojas especializadas. O fator que trouxe novidade para o trabalho foi a concepção e as possíveis propostas que podem decorrer dela. “A primeira questão é que não tem muitos sistemas montados. Não se trata de um sistema tão difundido. No nosso caso, criamos um tratamento em lócus, ou seja, no local. A partir disso desenvolvemos um estudo de qualidade com diversos parâmetros. Isso foi inovador”, avalia o pesquisador.
A tese de doutorado Proposta de um modelo de gestão integrada de águas urbanas em escala de lote residencial: alcances e limitações foi
orientada pelo professor Eduardo Mario Mendiondo. Em seu estudo,
Galavoti conseguiu mostrar quais metais inviabilizam o uso das águas
pluviais para uso potável. Isso permite que se faça um tratamento local
da água, em contraponto aos grandes sistemas de tratamento.
Segundo o tecnólogo, o foco da pesquisa foi o de fomentar uma nova
abordagem para a política de águas urbanas no Brasil, que possa ser
gerida a partir de uma escala de microdrenagem, ou seja, a partir de
lotes residenciais. “É preciso pensar em reutilizar em pequeno porte,
priorizando a questão da qualidade da água e também a prevenção de
desastres naturais, como enchentes e inundações”.
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